Informativo Mensal sobre temas ligados à Saúde Ocupacional e Segurança no Trabalho, Segurança em Transportes, Meio Ambiente e Direito Ambiental - abril 2018- Ed. 189

REPORTAGEM ESPECIAL: FIESP E CIESP DEBATEM EFEITOS DO 8º FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA

Evento tem também lançamento do Manual de Uso Racional de Água no Setor Industrial

Fiesp e Ciesp promoveram dia 28 de março seminário para avaliar os reflexos para o setor industrial das discussões promovidas pelo 8º Fórum Mundial da Água e as ações necessárias frente a políticas públicas e privadas para assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água, respeitando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis – Agenda 2030. Durante o evento foi lançado o Manual de Uso Racional de Água no Setor Industrial, criado pela Fiesp e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Ao abrir o evento, Nelson Pereira dos Reis, diretor titular do Departamento do Meio Ambiente da Fiesp e do Ciesp (DMA), exaltou o tom inclusivo do oitavo Fórum. A garantia da segurança da disponibilidade de água para as atuais e futuras gerações, conforme o objetivo 6 dos ODS, perpassa outros ODS. É notável que não tenha se resumido a questões técnicas o oitavo fórum, abrangendo compartilhamento e outros temas.

Destacou que há 14 anos a Fiesp promove o debate aprofundado do tema e afirmou que é fundamental a interação e parceria de todos os atores envolvidos.

Walter Lazzarini, presidente do Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp (Cosema), destacou que 250 milhões de pessoas morrem por ano devido ao consumo de água imprópria e que metade da população mundial vai viver em regiões sem abastecimento adequado. Lazzarini ressaltou que os ODS em alguns casos são de difícil execução, como alcançar em 2030 o acesso à água para todos, e já em 2020 recuperar e preservar fontes de água.

O maior dos desafios é conseguir cumprir esses objetivos com o escasso tempo disponível, afirmou Lazzarini.

Aprígio Azevedo, diretor de gabinete da Fiesp, também integrou a mesa de abertura. Stela Goldenstein lembrou que além da dificuldade de atingir as metas haverá riscos para a atividade produtiva caso não se consiga avançar na questão. Ter toda uma estrutura temática ligada a negócios foi novidade importante do 8º Fórum, dali saindo um compromisso empresarial pela água. Não é discussão simplesmente da área de meio ambiente, é uma discussão de todas as áreas produtivas, afirmou.

Investimento, racionalidade de uso, novos negócios, e o melhor de tudo, aumento de produtividade, são implicações dos trabalhos necessários para atingir as metas.

Rubens Naman Rizek Junior, secretário de Estado Adjunto de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, destacou que o tema da água será essencial no balizamento de qualquer decisão pública ou privada.

Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água, ressaltou a capacidade da Fiesp em entender o futuro e pautar discussões de temas essenciais para o desenvolvimento da indústria e do país como um todo.

Rafael Cervone Neto, 3º vice-presidente da Fiesp e do Ciesp, transmitiu as boas-vindas enviadas pelo presidente das entidades, Paulo Skaf. “Toda indústria tem relação intrínseca com a água”, destacou Cervone. Precisamos mobilizar as pessoas, afirmou. “Não adianta só a tecnologia.”

O primeiro painel do seminário teve como tema “Fórum Mundial da Água: Perspectivas e Desafios após o Evento”. Benedito Braga, secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos e presidente do Conselho Mundial da Água, explicou que é um processo, não um evento, o Fórum Mundial da Água. No caso da edição brasileira, aos temas tradicionais foi acrescentada a sustentabilidade.
Clima, pessoas, urbanização crescente, desenvolvimento, ecossistemas e financiamento, os temas definidos como essenciais, e os temas transversais deram a estrutura temática de 300 sessões técnicas do fórum, cuja ideia é fazer a ligação dos técnicos com os tomadores de decisão. As discussões dos temas levaram a ideias muito interessantes, relatou. Ministros de 56 países participaram e emitiram uma declaração conjunta sobre o tema.

Foi o maior fórum da história, disse Braga, com 120.000 participantes. Das discussões técnicas participaram 10.000 pessoas.

Braga defendeu o aumento da capacidade de reservação para enfrentar períodos de seca mais intensa, aproveitando períodos de chuva mais forte. E fez um alerta: se não conseguirmos motivar a classe política a para importância do tema será muito difícil implantar qualquer política que os técnicos considerem importante.

Rubens Naman Rizek Junior, secretário de Estado Adjunto de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, relatou que participou do Fórum Mundial da Água e se disse muito impressionado com a mobilização em torno dele. Em relação ao uso agrícola da água, disse que é preciso relativizar os números sobre o consumo. No caso da irrigação, por exemplo, a maioria da água volta para a própria bacia hidrográfica de onde foi retirada. Exagera-se também ao falar em consumo de 15.500 litros de água para produzir um quilo de carne.

Lembrou que o grande reservatório é a própria bacia, o solo, e o Estado de São Paulo tem se destacado na preservação disso, com o programa Microbacias. Mais recente, de 2015, o programa Nascentes é outro bom exemplo.

Giuliana Chaves Moreira, da The CEO Water Mandate e Rede Brasil do Pacto Global, listou eventos conjuntos promovidos por ambos, com destaque para o Water Business Day, em 18 de março, durante o Fórum.

Gustavo Goretti, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, destacou a participação política no 8º Fórum. Descreveu o projeto Biomas, para mostrar na prática aos produtores como recuperar com o menor custo suas áreas. Goretti defendeu a construção de represas, apesar do impacto local, depois recuperado.

No pós-Fórum, a CNA espera que aumente a cooperação entre os setores, disse. Nas propriedades há potencial para aumento da produtividade e da área irrigada graças à elevação da capacidade de reservar água e retê-la nas propriedades rurais.

Samuel Barreto, gerente nacional de Água da The Nature Conservancy Brasil, destacou os extremos climáticos, anomalias climáticas que devem ficar mais intensas e frequentes. Outro aspecto importante é a contabilidade da água, com aumento da demanda em relação à sua oferta. O terceiro ponto é a existência somente de prognósticos negativos. A lição tirada disso tudo é que não é possível mais fazer mais do mesmo. O maior desafio é fazer um trabalho conjunto.
Em relação aos riscos para o setor produtivo, citou o reputacional e o financeiro.

Exemplos da indústria
No segundo painel, foco para a Governança da Água no Setor Industrial, com a apresentação de cases. De acordo com Rafael Cervone Neto, 3º vice-presidente da Fiesp e do Ciesp, na Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) há grande compromisso com o cumprimento dos ODS, mas especialmente os que tratam de igualdade de gênero, pois a força de trabalho do setor é constituída majoritariamente por mulheres; trabalho decente; indústria, inovação e infraestrutura; consumo e produção responsáveis; parceria em prol das metas.

Cervone lembrou a importância da água como grande influenciadora das transformações na indústria, pois sem a máquina a vapor não teria se expandido em tal escala. Portanto, é força motriz. Historicamente, os banhos de tingimento evoluíram para os corantes que se fixam nos tecidos, das cores mais claras para as mais escuras, e era possível reaproveitar os banhos com o apoio da área química em um processo mais eficiente. O processo à base de ozônio, na fabricação e tratamento de jeans, denin, conseguiu dispensar uso da água, economizando, inclusive, energia.
Além de citar alguns exemplos da indústria têxtil, explicou que na área de confecção quase 90% do uso da água não está no processo industrial, mas na lavagem da roupa. Com tecnologia desenvolvida na guerra do Iraque, os tecidos passaram a contar com biopartículas biodegradáveis e assim é possível usar mais vezes a mesma roupa sem lavar. Há empresas que já contam com camisas que podem ser usadas até 300 vezes, apesar das resistências culturais. A tecnologia aponta para roupas que não amassam e meias que também estão aptas a usos contínuos, contando com ajuda do café para eliminação de odores, ou seja, tecidos autolimpantes.

No Brasil, há predomínio do algodão, por conta do clima, e o algodão brasileiro é um dos poucos que não precisam de irrigação. Só depende de chuva, diferentemente dos concorrentes, sinalizou Cervone.

Daniela Gil Rios, gerente de Relações Governamentais da Procter & Gamble (P&G), lembrou a presença da marca em mais de 70 países, com mais de 100 mil funcionários, além de ser o maior anunciante do mundo. “Com mais de 4,6 bilhões de consumidores/dia, reunido dez marcas, e mais de 30 anos no Brasil, a P&G está presente em 94% dos lares”, disse. Em termos de inovação, 7 mil cientistas espalhados pelo mundo repensam os produtos e os investimentos chegam à casa de US$ 2 bilhões/ano em pesquisa e inovação. No Brasil se concentram 4 fábricas e 3 centros de distribuição, além do Centro de Inovação América Latina estar localizado em Louveira (SP).  Entre as metas globais para 2020, um avanço é o fato de todas as fábricas terem zerado os resíduos encaminhados a aterro sanitário. Entre outras metas, diminuir o consumo de água em 20% por unidade de produção até 2020; tratar internamente a água com o mínimo de envio de efluentes para fora da companhia; maximizar o reúso com perspectiva de aumento de 20% até 2020.

Como tendência mundial, os produtos 100% concentrados fazem diferença para o meio ambiente, reduzindo a pegada hídrica, e a quantidade de embalagens, além de neutralizar odores.

Daniela Gil Rios enfatizou um produto 100% social que se iniciou no mundo, em 2004, e, no Brasil, em 2014, com o sachê água pura, desenvolvido por pesquisadores e que atende um bilhão de pessoas que se utilizam de águas impróprias. O sachê, produzido em uma única fábrica e distribuído gratuitamente em 85 países, contém 4g e purifica 10 litros de água em 30 minutos, evitando diversas doenças e propiciando mais qualidade de vida.

No Brasil, ela citou experiência no Vale do Jequitinhonha, que agrega 75 municípios e 980 mil habitantes, 75% deles em área rural. O solo é castigado por secas e enchentes e o acesso à água é escasso. Ao citar o impacto em 9 cidades, 175 comunidades, 86 escolas rurais, com o apoio da Child Fund Brasil, houve melhora sensível na saúde e na educação.
Já o exemplo da Raízen diz respeito ao pioneirismo em integrar a produção com a distribuição e comercialização do etanol proveniente da cana-de-açúcar. José Orlando Ferreira, gerente da Qualidade Integrada da empresa, lembrou que se trata de joint-venture entre Shell e Cosan e o resultado é portfólio de produtos que levam açúcar em sua composição, passando por postos de combustíveis, indústria farmacêutica e os setores de bebidas e cosméticos.
Ferreira citou o exemplo do programa ReduSa, com a divulgação de programas internamente, monitoramento e definição de metas. Ao citar a gestão corporativa, há preocupação com a melhoria dos índices, que dependem de boa medição das vazões e conhecimento dos balanços hídricos, além de gestão e monitoramento online, para a construção de um painel hídrico, pois assim surgem oportunidades para redução água e a instalação de um projeto-piloto que depois será compartilhado com as demais unidades.

O ReduSa conta com metas anuais, reunião de engajamento dos times, estabelecimento de metas e divulgação dos programas que alcançam desde refeitórios até áreas de convivência.

Em termos de números, cuidados e tratados, 200 mil m3/h de água recirculada em torres de resfriamento; 7 mil toneladas de vapor/hora e redução de captação de 9 bilhões de litros de água, em três anos de programa ReduSa. Não é só economia de água, mas também energética: 89 mil megawatts, o suficiente para abastecer em um ano 45 mil residências.

Uso Racional de Água

O objetivo do Manual de Uso Racional de Água no Setor Industrial é nortear a agenda da sociedade, após 20 anos da aprovação da Lei n. 9.433/1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, pois há desafios a serem superados.
A Fiesp já produziu outros materiais para internalizar esse tema junto ao setor produtivo, pois há poucas publicações sobre como fazer, e a indústria é fornecedora de soluções, pontuou a gerente do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp, Anícia Pio. “Este será um guia nacional e importante para setores sensíveis, tais como alimento e fármaco, que precisam de água com excelente qualidade em sua planta”, frisou.

O Manual traz sugestões de captação de água da chuva, aproveitamento de água de caldeiras, reaproveitando-se inclusive o condensado. No capítulo de água de utilidades foram abordados os principais aspectos de funcionamento e os monitoramentos e controles necessários para sistema de resfriamento, geração de vapor, reúso de água de condensado.

A gerente Anícia Pio enfatizou a governança do uso da água nas atividades produtivas com suas principais iniciativas: avaliação inicial; desempenho operacional; avaliação de condições locais e entendimento dos impactos; identificação de riscos e oportunidades; definição de plano de ação e metas; monitoramento e comunicação do desempenho.

Sob os aspectos institucionais do gerenciamento de recursos hídricos: a gestão descentralizada e participativa com os instrumentos da Política Nacional e Estadual de Recursos Hídricos: planos de bacias; enquadramento; outorga; cobrança e sistema de informações de recursos hídricos.

“Não é só fazer a lição dentro da sua fábrica, mas também junto a fornecedores e verificar se estão ou não em áreas de estresse hídrico e seus riscos inerentes”, disse, melhorando as condições da comunidade local, gerando cases de sucesso.

Para o diretor titular do Departamento de Meio Ambiente (DMA) da Fiesp, Nelson Pereira dos Reis, a indústria não é problema, mas solução e tem trabalhado em prol da sustentabilidade, em função dos insumos escassos, além de produzir produtos com mais confiabilidade.

Em termos ambientais, a Fiesp e o Ciesp estão presente nos Conselhos Nacional e Estadual de Recursos Hídricos e Comitês de Bacias Estadual e Federal, representando a indústria em mais de 200 fóruns ambientais.

Fonte: Fiesp


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