Informativo Mensal sobre temas ligados à Saúde Ocupacional e Segurança no Trabalho, Segurança em Transportes, Meio Ambiente e Direito Ambiental - setembro 2016 - Ed. 172

REPORTAGEM ESPECIAL: POR QUE OS CANDIDATOS A PREFEITO DEVERIAM ABORDAR TEMAS AMBIENTAIS

Pedro Jacobi, da USP, explica como as questões ambientais afetam diretamente a qualidade de vida dos eleitores

Segurança, saúde, educação, emprego. Esses são os temas que povoam os discursos dos candidatos a prefeito nestas eleições. Nenhum candidato é tolo. Eles tendem a falar o que o eleitor quer ouvir. Ou o que as pesquisas indicam que os eleitores querem ouvir. Questões ambientais não frequentam esse tipo de palanque eleitoral com regularidade. É uma pena. Iniciativas na área de meio ambiente podem ter impacto positivo direto na vida das pessoas. E, inclusive, ajudar a resolver questões de segurança, saúde, educação e emprego. O pesquisador Pedro Jacobi, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), conta mais sobre isso.

Que tipo de pauta ambiental o eleitor deve cobrar do candidato a prefeito?
Pedro Jacobi - Em linhas gerais, o cidadão deve ficar atento a pautas em que as questões ambientais estejam associadas à qualidade de vida das pessoas. O eleitor deve observar se o candidato tem um bom entendimento da relação entre a vida das pessoas e a qualidade da água dos rios, o destino dos resíduos sólidos, a redução da poluição do ar ou a preservação de áreas verdes. É importante que o candidato veja isso como não só uma questão econômica, mas de saúde para os habitantes da cidade.

Qual é a relação entre essas ações ambientais e a qualidade de vida da população?
Pedro - Em cidades grandes como São Paulo, a poluição do ar provoca uma maior incidência de problemas cardiovasculares e respiratórios. Córregos poluídos podem comprometer a qualidade da água de abastecimento da cidade. Resíduos mal depositados ajudam a multiplicar insetos e roedores que funcionam como vetores de doenças. Cuidar do meio ambiente tem vários efeitos positivos para a saúde de quem mora nas cidades. Por isso, a pauta ambiental de uma eleição municipal é tão próxima do cotidiano. Não estamos falando de unidades de conservação ou florestas distantes. O que está em questão são os espaços onde as pessoas vivem. Se os parques da cidade estão malcuidados, isso prejudica as opções de lazer. Árvores mal cortadas nas ruas podem cair, prejudicar o clima da cidade, aumentar as enchentes.

O que um prefeito pode fazer para melhorar a destinação do lixo se não houver espaço para aterros no município?
Pedro - Cidades vizinhas podem fazer um consórcio para resolver juntas os resíduos. Ninguém quer um aterro sanitário perto de casa. Não precisa ser uma solução individual de cada município. As prefeituras podem se juntar e escolher um local comum para o aterro. O município que oferece a área para o aterro pode ser compensado de várias formas, com investimentos e benefícios fiscais dos municípios usuários. Além disso, as prefeituras têm um papel importante para induzir novas práticas entre a população. A prefeitura pode doar equipamentos de compostagem, para que as pessoas usem nas casas ou nos apartamentos. Isso reduziria o volume de lixo orgânico que a cidade produz. Diminuiria o problema na origem. Além disso, a prefeitura deve prestar mais atenção aos programas de reciclagem. Em São Paulo, a reciclagem foi criada quando Martha Suplicy foi prefeita. O prefeito Fernando Haddad assumiu prometendo fazer a coleta seletiva chegar a 10% da cidade. Não atingiu sua meta. Numa cidade grande, essa operação é complexa. Os caminhões viajam até 50 quilômetros para os aterros com o material coletado. Para cidades de menor porte, a solução é mais plausível.

Como a poluição do ar pode entrar no palanque eleitoral?
Pedro - É um tema sensível nas cidades grandes. Mas deve também estar na mira de candidatos de cidades menores. Quanto mais cedo a cidade começar a investir em transporte público, melhor. Em geral, a discussão sobre transporte é mais associada à solução para os congestionamentos. Mas ele tem relação com a qualidade do ar. Quando o rodízio de veículos foi proposto em São Paulo, em 1997, a ideia original seria para a cidade inteira. Mas isso não foi aprovado por diversas pressões. Acabou restrito a uma área central da cidade. O principal motivo para o rodízio era melhorar a qualidade do ar.

Você mencionou a importância das áreas verdes, como parques ou mesmo a arborização das ruas. Isso não entra na lista de temas de campanha. Por quê?
Pedro - É uma bela questão. Será que a população não enxerga essa demanda? Provavelmente, não foi educada para entender a importância dos parques e das árvores urbanas para a qualidade de suas vidas. Eu fiz uma pesquisa na década de 1980 sobre a insegurança no abastecimento de água. Entrevistei gente de igrejas, associações de moradores, movimentos de mães e organizações de esquerda. Absolutamente ninguém associou a qualidade e a oferta de água aos saneamento e o esgoto. Hoje, essa relação é mais evidente. Foi preciso alguma educação ambiental e uma crise hídrica grave para as pessoas fazerem essa conexão. Talvez seja preciso educar a população para entender como a arborização tem efeito sobre a nossa saúde.

Os grandes temas que sensibilizam o eleitor agora parecem ser educação, saúde e segurança. Por que um candidato deveria dar espaço para o meio ambiente em suas propostas?
Pedro - Candidatos mais jovens podem ver uma oportunidade em entrar nesse tema. Mostra que o prefeito está conectado com as tendências internacionais. É um indicador de uma gestão mais moderna. Se o prefeito realmente tem convicções, as iniciativas ambientais podem ter grande efeito positivo. Podem gerar boas notícias. A questão é se o prefeito usa essa plataforma ambiental apenas como marketing ou se realmente está preocupado com o legado que deixa para o futuro.

Fonte: Blog do Planeta Época



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